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quarta-feira, 1 de junho de 2022

CRÔNICA DE UMA ALMA DESAMPARADA

 Como Cecília, a Meireles, eu não tinha este rosto de hoje, triste, os olhos tão vazios, e o lábio amargo, até voltei a usar hidratante facial noturno na esperança de um aspecto melhor. Mas ele não faz o que promete "deixar a pele com aparência descansada". Não o culpo, o cansaço é mais profundo e a pele, coitada, envelheceu.

 Como não envelhecer quando todo o viço da alma se escoou pelo ralo da certeza de que não teríamos mais um futuro juntos. Todas as perspectivas de futuro mudaram. Mudaram? Ou acabaram? Planos de simples fins de semana, de viagens curtas e longas se findaram no dia em que levei a rasteira do prognóstico. Tenho carregado o peso do mundo. 

 Os números que você tanto gostava de guardar na memória, não fazem mais o menor sentido para mim. As horas, os dias, as datas só servem para pesar na contagem de mais um momento que não tenho você comigo.

 Você me dizia que precisávamos resolver o meu problema de não saber nadar. Você queria me levar para o mar, o seu lugar de refúgio. Agora estou no mar tempestuoso do luto e não sei como tenho sobrevivido, vivido? Resistindo? Ou só existindo?

 Você era tão responsável, tão preocupado com as pessoas, com as coisas, porém o mundo não parou um segundo sequer para sentir de fato a sua ausência. Eu parei, fiquei perdida, abandonada, desamparada.


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