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domingo, 19 de junho de 2022

DOIS MESES SEM VOCÊ

     Uma das piores palavras pra dizer sobre alguém que perdemos é morreu, pois atesta pra nós mesmos o acontecimento imutável. E nos ouvir dizendo isso tem um peso gigantesco dentro da gente. Ainda não cabe em nenhum lugar dentro que você não existe mais fisicamente, que não posso te acessar de alguma forma. Isso é uma verdade estúpida!

    A cada dia, a cada mês que passa comprovo o que muitos dizem: o luto não é linear e eu "jurava" que somente hoje eu estaria péssima, mas me enganei. Desde sexta-feira que entrei no fundo do poço do luto e fiquei sendo engolida pela dor da sua ausência, meu bem!

  Incrivelmente são as pequenas coisas do dia a dia que me trazem à memória o que poderíamos ter vivido, porém não houve tempo. Chegando a mesma hora de sua partida, foi chegando em mim uma ansiedade, uma agonia. Numa noite de terça-feira, há 2 meses você nos deixou, descansou fisicamente e deixou sua existência nas lembranças e amor que construímos juntos.

    Não sou tão fraca quanto penso e nem tão forte quanto imaginam. Não tenho e nem preciso provar nada pra ninguém, apenas continuo seguindo como posso e como consigo tentando não quebrar o elo que construímos. A única coisa que me "consola" é saber que a nossa história é nossa, nós a vivemos, e ninguém tirará isso de você - onde estiver - e nem de mim.

    Sigo te amando.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

CRÔNICA DE UMA ALMA DESAMPARADA

 Como Cecília, a Meireles, eu não tinha este rosto de hoje, triste, os olhos tão vazios, e o lábio amargo, até voltei a usar hidratante facial noturno na esperança de um aspecto melhor. Mas ele não faz o que promete "deixar a pele com aparência descansada". Não o culpo, o cansaço é mais profundo e a pele, coitada, envelheceu.

 Como não envelhecer quando todo o viço da alma se escoou pelo ralo da certeza de que não teríamos mais um futuro juntos. Todas as perspectivas de futuro mudaram. Mudaram? Ou acabaram? Planos de simples fins de semana, de viagens curtas e longas se findaram no dia em que levei a rasteira do prognóstico. Tenho carregado o peso do mundo. 

 Os números que você tanto gostava de guardar na memória, não fazem mais o menor sentido para mim. As horas, os dias, as datas só servem para pesar na contagem de mais um momento que não tenho você comigo.

 Você me dizia que precisávamos resolver o meu problema de não saber nadar. Você queria me levar para o mar, o seu lugar de refúgio. Agora estou no mar tempestuoso do luto e não sei como tenho sobrevivido, vivido? Resistindo? Ou só existindo?

 Você era tão responsável, tão preocupado com as pessoas, com as coisas, porém o mundo não parou um segundo sequer para sentir de fato a sua ausência. Eu parei, fiquei perdida, abandonada, desamparada.