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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A MULHER NUA

(Baseado em  O HOMEM NU  de Fernando Sabino, criei esse conto em um exercício da disciplina Prática em Leitura e Produção de Texto, no semestre 2010.2)
A mulher, em seu apartamento, sem dinheiro para pagar as compras à revendedora de cosméticos, combinou com o seu marido fingirem que não havia ninguém, já que este também não tinha o dinheiro para pagar a dívida da mulher. Na manhã da data acertada do pagamento, já com tudo combinado entre o casal, ambos permaneceram calados para que não houvesse qualquer possibilidade de serem ouvidos sons provenientes da casa.
O homem permaneceu deitado e preguiçoso, enquanto sua mulher levantou-se para tomar um banho para “acordar”. Quando já havia tirado toda a roupa para tomar banho ela lembrou-se que era o dia que chegava a edição da Revista Da Mulher. Como ainda era cedo, ela resolveu ir pegar a revista do jeito que estava pelada mesmo. Abriu a porta e olhou com um olho por uma fresta para saber se havia alguém ou mesmo a revendedora. Como não havia ninguém ela saiu e, quando se abaixou para pegar a revista, a porta bateu em suas costas. Subiu e desceu rapidamente uma sensação de choque elétrico gelado em suas costas tamanho foi o seu susto.
A mulher respirou fundo e, com os olhos arregalados olhando em volta, bateu delicadamente na porta, pois não queria que naquele momento saísse ninguém e a visse naquele estado, totalmente fora de moda. O marido, por ter permanecido preguiçosamente deitado não ouviu as batidas, ou fingiu não ouvir por pensar ser a revendedora. Da calma para o desespero bastaram alguns segundos esperando resposta. A resposta não vinha e a mulher, com o desespero aumentando, batia com mais força na porta e nada de resposta.
Quando ela achou que não lhe faltava mais nada acontecer, ouviu vozes que vinham do apartamento vizinho e se aproximavam da porta principal e ela, impulsionada pelo desespero, correu em direção a escada para se esconder. Mas, para sua surpresa, a sua vizinha de frente estava subindo pelas escadas junto com o marido, tinham entrando numa de ‘abaixo ao sedentarismo’ e não usavam mais o elevador. A mulher voltou correndo empalidecendo de desespero e viu o elevador, rapidamente apertou o botão e como num passe de mágica a porta imediatamente se abriu.
Ela respirou profundamente aliviada, porém cortou a respiração ao meio quando se lembrou que o elevador estava descendo e que havia gente a espera para subir. Em ato de pavor ela apertou todos os botões que havia no painel do elevador. Pane geral. As luzes se apagaram, o elevador parou, a respiração já era quase inexistente. Antes que ela começasse a rezar e fazer promessas a todos os santos que lhe viessem à mente, o elevador voltou a subir. Mas a reza continuou pedindo que ninguém estivesse no corredor à espera do elevador. O elevador subiu e a mulher, num misto de alívio e medo, viu a porta se abrir e ninguém a esperar.
Preparada para chamar o marido de maneira mais eficiente que a anterior, ela parou em frente à porta de seu apartamento e batia, tocava a campainha, chamava o marido e ele fazendo-se de surdo e não reconhecendo a voz da mulher pela distância em que se encontrava, não atendia. Ela, sem perceber, estava sendo observada pelo seu vizinho da frente, aquele mesmo da turma do ‘abaixo ao sedentarismo’, que obviamente estava gostando da visão de uma mulher nua enchendo seus olhos logo pela manhã. De repente a mulher ouviu um grito aterrorizante atrás dela, era a esposa do vizinho da frente que o flagrou no deleite da contemplação que seu corpo nu estava causando-lhe.
A esposa ultrajada começou a esbofetear o marido sem-vergonha e xingar a vizinha sem escrúpulo. A mulher pelada, assustada, não sabia o que cobria com a revista, se a parte de cima ou a parte de baixo. Já angustiada pela situação que só piorava, à medida que todos os apartamentos vizinhos se abriram com seus inquilinos curiosos em saber o que estava acontecendo, começou a chorar copiosamente emitindo urros, que mais lembravam um animal morrendo do que um ser humano chorando. Seu marido finalmente escutou a confusão e, como se reconhecendo a maneira única de sua mulher chorar, resolveu abrir a porta. A coitada jogou-se nos braços do marido que a abraçando abafou o volume de seu choro que pouco a pouco foi acabando.
O marido resolveu trocar de roupa para ir pedir desculpas aos seus vizinhos da frente. Quando abriu a porta, já esquecido do motivo de todo o combinado, deu de cara com a revendedora de cosméticos, que sorridente se preparava para tocar a campainha e perguntou prontamente pela sua esposa.