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sábado, 25 de agosto de 2018

FUTURO NEGRO

     Joaquim já estava desfalecendo, perdendo o pouco de força que lhe restava, quando veio a sua mente as muitas palavras de sua mãe:
     - Você é meu orgulho! Orgulho de toda a família e já é um exemplo para as próximas gerações...
      Foi interrompido por um tapa na cara que o trouxe à realidade:
      - Fala onde tá o bagulho! Tu qué morrê?!
      - Eu num sei, já disse... Eu não sou quem vocês pensam...
     - CALA A BOCA, MERMÃO!!! Ou fala o papo reto ou vai descer pra vala! Tu escolhe!!!
      Ainda sem compreender bem o que acontecia, entendia que não sairia dali vivo.
    Não chorava mais, suas lágrimas de dor misturadas com o sangue de seu rosto viraram torpor. Começava a entrar em estado de "dormência" em que não sentia mais dor, medo, angústia ou desespero. Antes de desmaiar ainda pôde ouvir a confusão:
     - Falei pra tu que era o cara errado, otário!
     - Mas eu segui as indicação do Zinho!
     - Tu pegô o primo do cara, mermão!
     - E agora? Ele tá morto?! Tá morto?! MORTO?!
    - Sei não, vamo deixá ele na rua de baixo e vê se tem sorte... Bora! Bora! Bora! - Nesse momento Joaquim apagou.
     Logo acordou com os gritos de sua mãe e, sem conseguir abrir os olhos, via as pessoas ao seu redor como em flashes de luzes de uma boate. Ora via sua mãe, ora um rosto desconhecido, ora um olhar curioso. Sentia dor novamente e agora com uma intensidade ainda não experimentada antes. Todas as partes de seu corpo pulsavam em um único compasso de dor.
     Os gritos de sua mãe entrecortavam seu estado de dor:
     - Quem fez isso com você?! Reaja, Quinho! Meu Deus...!!!!!
    Cada toque de sua mãe em seu corpo era como socos e facadas desferidos. Sentiu frio. As vozes foram se distanciando e ele não sentia mais dor. Milagrosamente se sentiu como se estivesse em sua cama, aninhado pela sua mãe amorosa, com os lençóis cheirando a roupa "quarada".
     No outro dia os jornais estampavam em suas manchetes:
     "JOVEM DESAPARECIDO HÁ DOIS DIAS MORRE APÓS ESPANCAMENTO"
     "JOVEM CONFUNDIDO COM MEMBRO DE FACÇÃO É MORTO POR 'RIVAIS'"
     A população se comoveu e marcou uma "Marcha pela paz" na rua principal.
     A mão de Joaquim se negou a ir...

(Atividade sobre conto social realizada com uma turma de redação - alunos de 1º e 2º ano - em 08/03/2018)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

SONHO VIVAZ

Imaginar teu cheiro, teu toque,
o sabor do teu beijo,
o calor da tua boca
roçando o meu pescoço
enquanto sussurra palavras sacanas
me pegando por trás...



domingo, 4 de fevereiro de 2018

DESCRENÇA

Aquela que por vezes me visita
Não manda recado
chega sem convite e sem cerimônia
Basta uma simples sombra sua
de alguém passando na rua
pra haver desordem, caos.

Vi uma frase que caos é vida
mas você foi uma desordem
não planejada, acidentada
que eu, ingênua, busquei.

Uma postura aventureira
uma atitude pensada,
porém não calculada
reverbera em desventura
nos espaços de minh'alma.

Como me livrar do efeito
se está lá a cicatriz?
Grita no silêncio,
ecoa no vazio
e repete as palavras
que não foram ditas, 
apesar disso ficaram gravadas.



sábado, 6 de janeiro de 2018

FUTURO AMOR...

Se eu morresse amanhã 
queria que contassem
ao meu futuro amor
o quanto eu quis amar.

Queria que dissessem da minha lealdade
não esquecessem de contar sobre a amizade
e não omitissem a fidelidade,
cumplicidade e força
que eu de certo lhe daria.

Se eu morresse amanhã,
morreria comigo o futuro amor...



(13/12/2017)

terça-feira, 14 de novembro de 2017

SOU TANTAS

Um muito de mim acredita
Outro tanto descrê.
Metade de mim espera
Outra parte desespera.
Uma parcela de mim sorri
Enquanto um pedaço se regenera.

Sou muitas
E ao mesmo tempo nenhuma...

domingo, 5 de novembro de 2017

SAUDADES...

daquela que um dia sonhou
Imaginou tantas cores no mundo
mesmo quando tudo era cinza

Iludia-se que poderia mudar
que transformaria tudo
apenas com a pureza do seu coração.

Fez arco-íris na alma
Floreou-se de primavera
Mas no fim (chegou ao fim?)
Viu que já era outono
Que o verão havia passado
E as folhas e flores estavam secas.

Parou de esperançar pelos dias coloridos.

(Poema de uma dia que foi cinza)

terça-feira, 23 de maio de 2017

DESERTO

Hoje acordei sufocada
Mas não por falta de ar
Era falta de suspirar.
Aquele suspiro adolescente
Quase infantil
Que faz flutuar
Mesmo com os pés no chão.

Quem disse que temos de perdê-lo?
Quem disse que precisamos nos adultizar
Nos idiotizar sendo sisudos
Levando as coisas tão a sério?

Esqueci como é brincar.
E não falo de sorrisos
Refiro-me aos sonhos pueris,
Aqueles que perdemos
Ou nos tiram sem pedir licença.

Aliás, a vida nunca pede licença
É mal-educada e inconveniente
Foge do nosso roteiro
Nos obriga a improvisar
E quem não sabe disso
Perde o espetáculo,
Não entende os aplausos
E acaba só percebendo o fechar das cortinas.